terça-feira, 6 de setembro de 2011

Relação da poluição e das doenças no Brasil

Apesar do Brasil não ter locais com alta concentração de poluentes como ocorria em Cubatão e na região do ABC, todas as cidades passam por uma exposição diária originada da circulação de carros e caminhões. Mesmo com a melhoria da qualidade dos carros e dos combustíveis, o aumento do número de carros nas cidades brasileiras é contínuo na última década. A maioria dos estudos são realizados em São Paulo, onde se destaca o Laboratório de Poluição Atmosférica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Nos últimos dez anos foram descritas várias situações importantes onde poluentes se associam diretamente a doenças.

1 – aumento de 11% nas internações por asma na cidade de Araraquara durante a queima da cana. (J. Epidemiol Community Health. 2007 May;61(5):395-400);

2 – aumento de 10 microg/m3 de material particulado fino associou-se em São Paulo com 5% mais internações por asma em crianças, 4% de doença pulmonar obstrutiva crônica em adultos e 1,5% por doença coronariana. (Cad Saúde Pública. 2006 Dec;22(12):2669-77);

3 – aumento de derivados de enxofre associou-se a 15% do aumento de internações por infarto agudo do miocárdio em São Paulo. (Revista Saúde Pública. 2006 Jun;40(3):414-9);

4 – aumento de 24,7 mg/m3 da concentração de material particulado associou-se a aumento de 10% nas internações por pneumonia em São José dos Campos. (Revista Saúde Pública. 2006 Feb;40(1):77-82.);

5 – ozônio foi o poluente melhor associado à incidência de câncer de laringe e pulmão. (J. Air Waste Manag Assoc. 2005 Jan;55(1):83-7.);

6 – o aumento de monóxido de carbono CO (1.1 p.p.m.) foi associado com aumento de 3 mmHg na pressão arterial sistólica (máxima) entre os controladores de tráfego da cidade de São Paulo (os marronzinhos);

7 – o efeito da poluição não é igual na cidade de São Paulo, porque as áreas mais pobres são mais afetadas pelo efeito nocivo de poluentes. (J Epidemiol Community Health. 2004 Jan;58(1):41-6);

8 – um aumento de 1 ppm na exposição ao monóxido de carbono durante o primeiro trimestre de gravidez induz a uma redução estimada de 23g no peso ao nascimento. (J Epidemiol Community Health. 2004 Jan;58(1):11-7);

9 – ozônio e derivados do enxofre associaram-se a 20% de aumento de casos descompensados da doença pulmonar obstrutiva crônica. (J Occup Environ Med. 2002 Jul;44(7):622-7.);

10 – monóxido, ozônio e derivados de enxofre se associam com mortalidade infantil em São Paulo. (Environ Health Perspect. 2001 Jun;109 Suppl 3:347-50).

Concluindo

O estado de São Paulo está correto em processar a Petrobrás exigindo redução de enxofre no diesel que abastece os caminhões? Esse mesmo estado não deveria proibir a queima da cana? Sim, essa é resposta simples a essa questão cada vez mais importante. Quantas vidas poderemos salvar reduzindo o enxofre no diesel?

A Resolução 315, de 2002, do Conselho Nacional de Meio Ambiente, estipula que, a partir de janeiro de 2009, o diesel comercializado no País tenha concentração máxima de 50 partes por milhão de enxofre. Na Europa, a concentração permitida é de 10 a 50 partes por milhão (ppm) - em 2009, será de 10 ppm. No Brasil, varia hoje entre 500 ppm no combustível comercializado em Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e outros 234 municípios, a 2.000 ppm nas mais de 5.300 cidades restantes. Além dos estudos acima, o já citado Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo calcula que a poluição na região metropolitana de São Paulo promova a morte precoce de 2 mil pessoas por ano. O custo dos danos à saúde chega a US$ 1 bilhão ao ano quando o resultado é extrapolado para as maiores capitais brasileiras.

Qual a realidade nas grandes cidades brasileiras?

Hoje, ao contrário de Cubatão onde havia menos de 300 fontes primárias de poluição, em cidades como São Paulo o número de fontes primárias é contado aos milhões: carros, ônibus e caminhões que circulam o tempo inteiro pela cidade. Isso mostra a dificuldade para controlar a poluição ambiental em grandes centros urbanos e o desafio que nos espera nos próximos anos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário